Nota de Apoio à Greve das Professoras e dos Professores em Cubatão

 

 

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O Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro, núcleo de Santos, vem a público prestar solidariedade e se colocar ao lado da categoria de professoras e professores do município de Cubatão, que desde o dia 22 de maio estão em greve por tempo indeterminado.

A greve teve início por conta dos decretos municipais 10684/17 e 10697/17 que prejudicam o trabalho docente e a carreira da categoria. Caso haja sua efetivação, as professoras e professores sofrerão com redução salarial e a diminuição dos valores das aposentadorias. Além disso, desde o ano passado as professoras e professores vem lutando pelas melhorias nas escolas. Alguns prédios estão sucateados,  os materiais didáticos e o uniforme escolar não foram recebidos. Como não bastasse tudo o que foi elencado, estourou recentemente na imprensa o escândalo da merenda, envolvendo o nome do prefeito Ademario e do ex-secretário de educação, Raul Christiano.

Sabemos que a maioria das profissionais em educação, principalmente de educação básica, são mulheres que enfrentam todos os dias condições precarizadas de trabalho, manifestações do machismo como o assédio, bem como múltiplas jornadas entre emprego, tarefas domésticas e o cuidado com a  família, especialmente aquelas que atuam no magistério básico, onde o trabalho é desvalorizado e o salário bastante baixo.

Sabemos também que por sua condição na sociedade patriarcal, são as mulheres as responsáveis pelo cuidado e pela educação de seus filhos e, portanto, a falta de qualidade de ensino bem como, as péssimas condições das escolas, falta de vagas nas creches, as afetam cotidianamente em suas condições de trabalho. Em Cubatão, os gestores públicos também não se comprometem com a merenda e se envolvem em escândalos contra um direito tão básico como alimentação para os filhos da classe trabalhadora.

O Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro tem como tarefa lutar pelas pautas da mulher trabalhadora, rumo à emancipação de toda a classe, e nesse sentido sabemos que a luta por uma educação pública, gratuita de qualidade é também uma bandeira histórica das mulheres e de toda classe. Nesse momento da conjuntura e do acirramento da luta de classes é preciso resistir e lutar contra a retirada de direitos em todas as esferas e barrar o sucateamento das escolas destinadas e frequentadas  pela classe trabalhadora.

Saudamos a mobilização das mulheres professoras em Cubatão, bem como das mães dos estudantes e das crianças que frequentam as escolas municipais da cidade, pois sabemos como a luta política também significa muitas vezes quartas e até quíntuplas jornadas de trabalho. Saudamos também  toda categoria dos professores e a Comissão de Lutas dos Servidores de Cubatão e nos colocamos lado a lado nessa luta. 

Nota de Esclarecimento

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Hoje, 02.04.18, o Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro soube que uma militante utilizou, como argumento para se posicionar diante de denúncias de violência contra uma outra mulher, o fato de um companheiro ter sido denunciado por machismo contra uma camarada do proprio coletivo em Santos. Vimos a público esclarecer que essa denúncia nunca ocorreu! Historicamente, o Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro se coloca contra as violências cometidas contra as mulheres trabalhadoras, desde seu nascimento, como foi o caso lamentável envolvendo uma estudante da Unifesp, na última semana.
Também prestamos a nossa solidariedade a todas as mulheres que sofrem com abusos diariamente, mesmo de militantes que deveriam ter posturas diferentes, e que, conforme entendemos nossa realidade precisam de um grande processo pedagógico para perceber tais erros.
Portanto, não admitimos a utilização da história e do nome do Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro como argumento entre desavenças políticas e pessoais. Estamos à disposição para quaisquer esclarecimentos. 

Nota de repúdio aos atos que nos impedem de lutar

nota CFCAM CNMO

Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro e o Coletivo Negro Minervino de Oliveira se solidarizam à luta dos estudantes da Universidade Federal de São Paulo – Campus Baixada Santista, que tiveram suas bolsas de auxílio permanência cortadas em mais uma investida do Capital contra a classe trabalhadora e repudia qualquer ato violento praticado contra a nossa classe , que venham a inviabilizar nossa luta.
Infelizmente, vemos que aos poucos vai se materializando o resultado da  Emenda Constitucional “do fim do mundo”, que preconiza, entre outros ataques aos trabalhadores, o congelamento de gastos públicos por 20 anos.
A lógica da política da privatização reverbera no ensino público e seu sucateamento. Dessa forma, aos poucos, a classe trabalhadora vai se distanciando do espaço acadêmico e da possibilidade gerar conhecimento contra hegemônico e atuar na luta estudantil.
No decorrer da semana passada, após a notícia do corte de mais de 500 bolsas de auxílio permanência dos estudantes da Universidade Federal de São Paulo – Campus Baixada Santista, uma ação coletiva entre os estudantes foi deliberada com a necessidade de suspensão imediata das aulas para garantir que todos os alunos e alunas do local pudessem participar ativamente e ter informações sobre os cortes.
Ocorre que no momento dessa ação, o professor Roberto Tykanori Kinoshita, com o discurso de que uma das alunas presentes havia invadido sua sala e que estava errada, agarrou-a pelos braços de modo violento, imobilizando-a e empurrando-a para fora da sala de aula. A estudante ainda o questionou sobre sua conduta, que individualizou uma ação coletiva, para deslegitimar a ação.
Em nota nas redes sociais, o professor não nega a agressão e, apesar de tentar explicá-la, não informa que esta fora direcionada a uma mulherdentre os diversos homens presentes e que sua primeira abordagem fora feita com a estudante ainda de costas, na intenção de surpreendê-la.
Nós, do CFCAM  e do CNMO entendemos que essa agressão, já objeto de Boletim de Ocorrência, foi um ataque direto às estudantes trabalhadoras, que além de precarizadas em seus locais de trabalho, também são vistas como o elo mais fraco em todos os outros âmbitos de sua vida social.
Não podemos esquecer que o modo de produção capitalista, ao longo de seu processo de acirramento das relações sociais de classe, desenvolveu e aperfeiçoou técnicas de controle da classe trabalhadora.  O machismo e o racismo, assim, servem ao Capital não só como manutenção de seu sistema de reprodução, já que é a mulher e nesta hierarquia, mais especificamente a mulher negra pobre que mantém o trabalho ainda necessário para que ambos os trabalhadores (homens e mulheres), se reproduzam, e ainda mantém o controle da classe, operando uma violência sobre seus corpos.
Nas universidades, as estudantes já representam 53,5% das taxas de matrícula e lidam todos os dias com políticas de expulsão de estudantes mães da moradia, falta de segurança nos campi, e não existência, na maioria dos casos dos auxílios creche. Mulheres, especialmente as mães, pessoas negras e LGBTs, nos moldes de hoje, não são bem-vindas em nossa universidade. E  se essa não é a educação que queremos, não podemos aceitar também nenhuma ação que nos impeça de lutar.
No caso em questão, inclusive, a estudante lutava pelos seus direitos como mulher e proletária, ao acesso à educação, que deveria ser um direito de todos nós trabalhadores.
Sabemos que, principalmente nesse momento histórico, mecanismos de controle buscarão nos apassivar cada vez mais. Não podemos nos calar diante de quaisquer obstáculo que impeça a luta de nossa classe, e das estudantes. Sabemos que todos os dias Marias, Anas, Alexandras constroem com seus corpos a resistência que precisamos para que a luta nos leve ao fim, à emancipação da humanidade. Por isso, repudiamos o ato do professor em tela e nos colocamos ao lado dos estudantes da Unifesp – Campus Baixada Santista, que desde ontem deflagraram greve.
Por uma sociedade socialista, antirracista, anticapitalista e antilgbtfóbica!
COLETIVO FEMINISTA CLASSISTA ANA MONTENEGRO
COLETIVO NEGRO MINERVINO DE OLIVEIRA

Nota de repúdio

NUNCA É TARDE PARA LEMBRAR que no domingo dia 24/09/2017, o até então Secretário de Cultura do município de Santos, Fábio Alexandre Nunes do PSB publicou a foto de uma moça, sem o seu consentimento, em suas redes sociais quando estava no festival “Rock in Rio”. A foto expunha a garota a uma situação vexatória e o comentário feito por ele “Rock’n Rio por outro ângulo(..)” expressa a atitude claramente machista do secretário, o conhecido professor Fabião. Por ser uma pessoa pública, a repercussão da foto foi alta e muitas pessoas se manifestaram contrárias a atitude do “ilustríssimo” secretário. Os jornais A Tribuna, Diário do Litoral e G1 noticiaram que depois da má repercussão, Fabião se justificou dizendo que teria direito a liberdade de expressão e não tinha a intenção de desvalorizar a moça. A prefeitura de Santos se manifestou dizendo que a atitude do secretário foi inadequada. Logo em seguida, Fabião retira a polêmica foto do ar, pede desculpas públicas e tira férias para se afastar do cargo. Assim, ele poderá “superar este momento”, como citou a reportagem do G1.
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Foi reiterado nesses veículos de comunicação que o professor não tinha a intenção de desvalorizar a mulher. No entanto, podemos afirmar que o constante destaque feito, também expressa a visão machista que ainda impera em nossa sociedade. O machismo serve ao Capital não só como manutenção de suas relações sociais de produção, já que é a mulher que ainda mantém o trabalho necessário para a reprodução da força de trabalho, tanto sua quanto a do homem, mas também opera como controle de classe, atuando com violência sobre seus corpos. Assim, o corpo da mulher continua sendo assediado e considerado como algo público que pode ser fotografado ou abusado sem haver maiores consequências, já que o secretário simplesmente gozará de férias remuneradas para que todos esqueçam da infeliz atitude. Muitas críticas feitas, incluindo a do prefeito Paulo Alexandre, consideraram a atitude moralmente recriminável, o que não explicita o seu conteúdo machista e desvia o foco do verdadeiro problema: o machismo instituído na sociedade capitalista.
Diariamente, as mulheres, principalmente as trabalhadoras, sofrem com o machismo materializado na objetificação de seus corpos, nas brincadeiras vexatórias que ferem a dignidade feminina, nos assédios e na violência sexual cometida no âmbito público e privado. O caso Fabião também pode ser considerado um exemplo da frágil política interna de partidos social-democratas, já que utilizam pautas feministas apenas como palanque eleitoral a fim de cativarem o voto feminino.
Devemos nos lembrar dos 288 casos de abusos sexuais, nos ônibus, trens e metrô registrados pela polícia militar no período de janeiro a julho deste ano, somente na região metropolitana de São Paulo, de acordo com reportagem publicada no dia 29 de agosto 2017 no G1, ou mesmo os casos de exploração sexual de meninas/crianças no centro de Santos denunciados pelo Jornal Diário do Litoral no dia 30 de Abril de 2017. Também não podemos esquecer-nos do recente caso da trabalhadora que sofreu abuso sexual em um ônibus na região metropolitana de São Paulo, no qual o abusador ejaculou em seu rosto. Este sujeito já tinha passagem pela polícia por 13 estupros cometidos, mas continuava solto até aquele momento. Isso demonstra uma atitude negligente da justiça paulista quando o assunto é violência sexual contra mulheres.
O Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro reforça seu apoio às mulheres trabalhadoras que todos os dias são vítimas desses abusos e considera inaceitável uma figura pública desrespeitar a dignidade feminina em detrimento da sua suposta liberdade de expressão. Reafirmamos a necessidade da luta das mulheres trabalhadoras contra a exploração e a dominação imposta pela sociedade capitalista.
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Curso Como Funciona a Sociedade I

O Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro convida todos (as) interessados (as) para o curso de economia política Como Funciona a Sociedade I.

O CURSO
O curso Como Funciona a Sociedade I faz parte de uma séries de cursos do Núcleo de Educação Popular 13 de Maio. Trata dos elementos básicos para a formação da sociedade capitalista: riqueza e pobreza, exploração, salário, mais-valia, acumulação e inicia a discussão sobre estado e ideologia.

DURAÇÃO E VALOR
O curso terá ao todo 16 horas de duração (com certificado), normalmente é ministrado em um fim de semana ( sábado e domingo), entretanto, estaremos realizando-o a primeira parte no sábado (06/05) e a segunda parte no sabado seguinte (13/05), sendo de extrema importância o comparecimento nos dois dias.

Será oferecido café da manha, lanche da tarde e espaço para as pessoas que precisarem levar crianças. O valor de R$ 20,00 será cobrado pelos dois dias para arcar com gastos de café, materiais de papelarias e espaço para as crianças.

INSCRIÇÕES
Para se inscrever é necessário responder o formulário https://goo.gl/forms/Je4j49p6hQb17TRo2 que depois enviaremos um e-mail de confirmação de inscrição

 Evento no facebook: https://www.facebook.com/events/1261500180630468/

 

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8 de março: origem e significados.

Texto produzido pelo Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro – Baixada Santista baseado no livro “As origens e a comemoração do Dia Internacional Das Mulheres” de Ana Isabel Alvarez González.

“Para mudar a vida das mulheres temos que mudar o mundo, e, portanto, todas as lutas por mudanças são também luta das mulheres” 

A origem do Dia Internacional das Mulheres

A origem do Dia Internacional das Mulheres é comumente retratada como uma homenagem a trabalhadoras de uma fábrica têxtil que morreram em um incêndio provocado pelo próprio chefe.

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Porém, há mais versões sobre a origem do 8 de março. Apesar das teorias de que o Dia Internacional das Mulheres surgiu devido a uma greve de trabalhadoras da indústria têxtil em 8 de março de 1857 e de outra greve em 1908, não há registros que comprovem estas informações. Na realidade, este incêndio ocorreu no dia 25 de março de 1911 em Nova York na Triangle Shirtwaist Company e não foi um acidente provocado, mas sim fruto da negligência do proprietário do prédio, que possuía mais de 8 andares e nenhum sistema de proteção para incêndios e outros acidentes de trabalho, o que era muito comum nos Estados Unidos nessa época. Um professor da Universidade da Colômbia já havia notificado o dono do imóvel sobre essas falhas estruturais que ofereciam grandes riscos aos trabalhadores, tanto de incêndio quanto pela falta de saídas de emergência. Essa notificação foi ignorada e, no dia 25 de março, às 16h45, iniciou-se um incêndio no 8º andar do prédio, que alastrou rapidamente pelas estruturas de madeira, resultando em 136 mortes, sendo 13 homens e 123 mulheres.

Eu, junto com outras moças estava no vestiário do oitavo andar [da fábrica] (…), às 4h40 em ponto, da tarde de sábado, 25 de março, quando ouvi alguém gritar: fogo! Larguei tudo e corri para a porta [de emergência] que estava trancada e, imediatamente, as meninas se amontoavam atrás dela. Os patrões mantinham todas as portas fechadas a chave o tempo todo por medo que as meninas pudessem roubar alguma coisa. Algumas meninas estavam gritando, outras esmurrando a porta com os punhos. (Depoimento de Rosey Safran apud GONZÁLEZ, 2010)

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O episódio causou muitos protestos de diversas organizações e o julgamento do proprietário do prédio, que não foi muito eficiente já que o inocentou. Todavia, o episódio resultou em uma legislação nacional trabalhista mais rígida.

Essas trabalhadoras vítimas do incêndio eram imigrantes Italianas e russas em sua maioria e viviam na região sudeste de Nova York, sendo extremamente exploradas, chegando a completar 70 horas semanais de trabalho. Este fato é importante, pois essas mesmas mulheres foram as protagonistas de uma greve geral no setor têxtil, conhecida como o levante das 20 mil\15 mil, uma das greves mais importantes do período e onde só haviam mulheres trabalhadoras.

Embora diversas greves tenham acontecido sim e o incêndio também, não foram esses fatos originaram o Dia Internacional das Mulheres. Por conta de terem se passado no mesmo período, criou-se um mito uma vez que as mesmas trabalhadoras que morreram incendiadas foram protagonistas de uma grande greve.

Sobre o mito existe parte de verdade mas, em certa medida, também o recria, relacionando e concentrado certos fragmentos do passado, de modo que adquire permanência e significado universal .  GONZÁLEZ, 2010.

 Movimento operário e movimento de mulheres

 O fim do século XIX é marcado por grandes movimentos operários socialistas, que estimulavam os trabalhadores a participar dos sindicatos e do cenário político. Embora questões referentes à construção de uma nova sociedade fossem amplamente debatidas, a mulher, mesmo nesses meios mais progressistas, não possuía muito espaço, o que não impediu que as mulheres socialistas começassem a pensar e exigir seus direitos.    

  Embora Karl Marx e Engels não tenham falado especificamente sobre a opressão da mulher, muito dos seus escritos concluíam que a mulher sofria dupla opressão no sistema capitalista. Além disso, precisava de igualdade jurídica dentro do capitalismo para se juntar aos homens na luta pelo socialismo. Augusto Bebel, um dos fundadores do Partido Social Democrata Alemão (SPD) retratou melhor a questão em sua obra “A Mulher e o Socialismo”, tendo muitas influências sobre as mulheres da sua época, já que o livro retratava em muitas passagens como seria a vida das mulheres nesta outra sociedade e afirmava que a dupla opressão que a mulher sofria se resolveria com o advento do socialismo.          

 As mulheres estavam saindo para trabalhar nessa época e percebiam que, saindo da opressão do lar, também se sujeitavam à opressão capitalista. Apoiadas pelas ideias de Bebel, muitas entraram para a militância socialista e  passaram a reivindicar direito ao voto, educação, divórcio, serviços populares domésticos, entre outros.    

  Uma das principais líderes deste movimento era Clara Zetkin, militante do SPD, conhecida pela sua capacidade de estudo e escrita e que inovou os meios operários socialistas, já que quebrava totalmente o estigma de que as mulheres deveriam ser submissas. Na 2ª Internacional Socialista, um congresso onde as organizações socialistas de todo mundo se reuniam,  em 1889, ela defendeu   os interesses das mulheres trabalhadoras, alegando que quando iam para o trabalho também eram oprimidas pelos patrões e, por isso, deveriam estar unidas junto aos homens pelo socialismo. Foi encaminhado, então, que os partidos socialistas deveriam incluir em seu programa a defesa dos salários iguais.          

  Na mesma época surgiram movimentos de mulheres burguesas que tinham como pauta principal o sufrágio feminino, convocando todas as mulheres para se juntar à causa, inclusive, as mulheres trabalhadoras.    

 Em 1907, já no século XX, ocorreu em Stuttgart a 1ª Conferência Internacional de Mulheres Socialistas cuja principal resolução foi a de que os partidos socialistas deveriam reivindicar o sufrágio universal, porém com as ideais socialistas, diferenciando, desta forma, o movimento sufragista das mulheres burguesas do movimento das mulheres trabalhadoras. O voto facilitaria a participação das mulheres na via política e, por conseqüência, a luta pelo socialismo, consolidando esta como uma luta de classes e não de sexos – as burguesas lutavam contra os homens de sua classe e as socialistas lutavam junto aos homens de sua classe contra a burguesia.                                                

 Fora da Europa, nos Estados Unidos, os movimentos de sufrágio também estavam à milhão, sendo reivindicado pela primeira vez em 1849 o direito ao voto em uma Convenção chamada SenecaFall, organizada por duas líderes abolicionistas, Mott e Cady.            

 Entretanto, o assunto só foi levado a sério com o fim da guerra que libertou os escravos, dando a eles o direito ao voto. Como o movimento vinha de mulheres brancas e burguesas, era totalmente norteado pelo elitismo e o racismo. A situação era tão grave que era preciso ser criada uma nova categoria de movimento de mulheres – o feminismo – para distinguir aquelas que lutavam pelo fim da exploração capitalista das mulheres conservadoras.            

 O movimento das mulheres socialistas dos EUA girava em torno do do Partido Socialista Americano (PSA), que tinha como resolução em seu 3º Congresso Nacional em 1908 que a questão das mulheres deveria estar dentro do partido, sendo criado um Comitê Nacional das Mulheres, que lutariam pelo sufrágio sabendo que só o socialismo libertaria verdadeiramente a mulher.        

   Em seu 4º congresso, em 1910, o PSA discutiu que, embora fosse simpático a qualquer organização pelo sufrágio, o ponto da luta era expandir a consciência de classe, não colaborando com as mulheres burguesas. Foi declarado que o último domingo de fevereiro, o primeiro dia 28/02 de 1908, seria declarado o “Woman’s Day”, O Dia da Mulher, que aconteceu antes da greve dos 20 mil, sendo comemorado em diversos locais do país e se repetindo pelos anos, tendo como principal objetivo expandir a consciência de classe das mulheres, havendo também interesses eleitoreiros do partido e a conscientização dos homens. Este dia também fortaleceu os laços com as mulheres trabalhadoras da Greve dos 20 mil, pois as trabalhadoras em greve aderiram à manifestação.    

 Inspirada nas mulheres americanas, Clara Zetkin propôs na Segunda Conferência Internacional das Mulheres Socialistas um Dia Internacional das Mulheres, para reivindicar o direito ao voto universal, para estreitar os laços com as mulheres de todo o mundo e também para diferenciar o movimento das mulheres trabalhadoras das mulheres burguesas, já que estas também estavam organizando movimentos internacionais.  

Para as mulheres burguesas, os direitos políticos são simplesmente um meio para conseguir os seus objetivos mais comodamente e com mais segurança neste mundo baseado na exploração dos trabalhadores.Os caminhos seguidos polas mulheres trabalhadoras e as sufragistas burguesas separam-se há tempo. Há uma grande diferença entre os seus objetivos. Há também uma grande contradição entre os interesses de uma mulher operária e as donas proprietárias, entre a criada e a senhora… portanto, os trabalhadores não devem temer que haja um dia separado e assinalado como o Dia da Mulher, nem que haja conferências especiais e panfletos ou imprensa especial para as mulheres. Alexandra Kollontai, O Dia da Mulher (1913) 

 Apesar de bem aceita, não ocorreu nenhuma organização e ou proposta de data. Celebrou-se em toda Europa com grande êxito, porém sempre em datas diferentes – na Alemanha, por exemplo, foi dia 19 de Março.

Russia e a perda do significado original 

A Rússia nessa época ainda era um país camponês, patriarcal, em um regime autoritário que era centrado na figura do Kzar. As mulheres eram destinadas ao lar, sendo as responsáveis pelo trabalho doméstico ou eram levadas à prostituição; não podiam se divorciar e eram proibidas de entrar em organizações políticas legalizadas.  O operariado russo estava crescendo, bem como as mulheres trabalhadoras, havendo, inclusive, publicações sobre a situação das mulheres operárias.            

 Os partidos revolucionários eram proibidos de existir, fazendo com que as atividades clandestinas no país fossem muito fortes. Alexandra Kollontai se destacava como líder das mulheres, defendendo, assim como Zetkin, a celebração do Dia Internacional das Mulheres como um dia das mulheres trabalhadoras, servindo como um instrumento que estimularia a consciência de classe, onde as mulheres se uniriam com os homens para alcançar o socialismo – o que era uma afronta muito grande para o regime autoritário russo: um dia onde as mulheres sairiam às ruas reivindicando direitos com e como os homens.

  Com a Primeira Guerra Mundial, as contradições na Rússia se aceleraram e com isso também o processo revolucionário. No dia 23 de fevereiro de 1917, as mulheres de Petrogrado que haviam assumido as tarefas dos homens – já que estes estavam em guerra – cansadas da escassez do dia a dia, saíram as ruas, o que contrariava totalmente as ordens do partido. As palavras de ordem eram: pão, liberdade e fim das guerras. 

  No dia seguinte, já haviam mais de 190 mil trabalhadoras na rua. O clima da revolução era eminente e os soldados se recusaram a abrir fogo contra as manifestantes. No dia 10 de março, a greve já havia se tornado geral. No dia 12, os Soviets (conselhos operários que coordenaram a revolução) foram criados e no dia 17, com o exército ao lado dos operários, o absolutismo foi deposto e a Rússia tornou-se uma república.        

   Depois desse episódio, as mulheres na Rússia passaram a ser mais reconhecidas entre os meios socialistas operários, surgindo jornais periódicos dos Bolcheviques que eram lidos para as mulheres nas fábricas.  

 Quando a Revolução Russa explodiu em outubro de 1917 (com a bandeira todo poder aos Soviets), foram proclamadas leis que deram igualdade para as mulheres, como instituições de ensino aberta às mulheres, esposa e esposo com o mesmo status social, legalização do aborto, declaração da ilegalidade da prostituição, aprovação da igualdade de salário por trabalho igual, licença-maternidade, proibição do trabalhado pesado e noturno para mulheres.            

 Foi admitido que sem o socialismo não há feminismo e sem feminismo não há socialismo, que o socialismo era essencial para libertar concretamente as mulheres e que era preciso muito mais do que conceder direitos: era preciso também libertar as mulheres do lar para que participassem da vida política. Desta forma, foram criadas creches, restaurantes e lavanderias públicas.                                  

Dois anos depois, na Terceira Internacional Socialista, foi aprovado e discutido que as mulheres devem e são essenciais para uma revolução e  que, portanto, as organizações comunistas de todo mundo tinham a obrigação de assegurar sua participação. Em  1920, junto com a Terceira Internacional, foi organizada a 2ª Conferência das Mulheres Socialistas, onde decidiu-se que o Dia Internacional das Mulheres seria celebrado em 8 de março como uma lembrança do que as mulheres fizeram na Rússia no dia 8 de março de 1817 (23 de fevereiro no calendário Russo). Se antes o Dia Internacional das Mulheres estava ligado ao direito ao voto, agora dizia respeito à revolução.  

Sem título O Dia Internacional das Mulheres na Rússia se perdeu por conta de algumas políticas stalinistas, que, ao fazer uma “revolução industrial” na Rússia, que era um país agrário, infringiu várias legislações trabalhistas além de escravizar as mulheres no serviço doméstico, já que as ações para que este se tornasse responsabilidade do estado não haviam sido suficientes, o que fez com que a natalidade diminuísse. Para que isso não acontecesse, a partir de 1934, a estrutura familiar tradicional foi valorizada e a ideia de “mulher-mãe abnegada” roubou o espaço da ideia da mulher revolucionária que era presente até então.    

Outros acontecimentos que contribuíram para a perda do significado original do Dia Internacional da Mulher foram o período que compreende a Segunda Guerra Mundial e o surgimento da Organização das Nações Unidas (ONU).

Ao contrário da primeira, esta guerra foi considerada pois buscava combater o nazismo. Houve um chamado dos governos para que as mulheres voltassem ao mercado de trabalho já que os homens estavam em guerra e, nesse contexto, elas atenderam. Mesmo diante deste quadro, o 8 de março ainda era comemorado, ocorrendo diversas movimentações, inclusive, de mulheres burguesas, que sugeriam em alguns discursos, já em 1945, que era necessário elaborar uma carta de direitos para as mulheres como forma de agradecimento aos serviços prestados a toda a população e celebração da retomada da paz.

No mesmo ano, em fevereiro, os Aliados criaram as Nações Unidas, organização que tinha como finalidade preservar a paz internacional e a regeneração do mundo. Para não ficar de fora, a alta esfera política de mulheres se reuniu em Londres para elaborar a carta com os direitos das mulheres. Em 1947, a ONU cria uma Comissão sobre o Status da Mulher com o objetivo de promover o reconhecimento e a concretização dos direitos políticos, econômicos, sociais e de educação para a população feminina. As mulheres passaram, então, a contar com um organismo internacional que velaria pelos seus direitos.

O 8 de março continuou sendo celebrado com um novo significado: agradecer as mulheres pelo trabalho realizado durante a guerra. O movimento de mulheres continuou celebrando o Dia Internacional da Mulher de forma reivindicatória, principalmente as mulheres socialistas. Com a segunda onda do feminismo, a marca comunista e sua origem foram encobertadas. A ONU contribuiu fortemente para tal, dando outra versão dos fatos de 1975, apagando da história as mulheres russas e as comunistas e convertendo a causa feminista ao desenvolvimento do capitalismo. 

Referências 
  • GONZÁLEZ, Ana Isabel Álvarez. As origens e a comemoração do dia internacional das mulheres. São Paulo: Expressão Popular, 2010.
  • KOLLONTAI, Alexandra. International Women’s Day. Cleveland, Ohio: Hera Press, 1982.
  • Triangles: Remembering the fire, documentário, de Daphne Pinkerson