Nota de repúdio

NUNCA É TARDE PARA LEMBRAR que no domingo dia 24/09/2017, o até então Secretário de Cultura do município de Santos, Fábio Alexandre Nunes do PSB publicou a foto de uma moça, sem o seu consentimento, em suas redes sociais quando estava no festival “Rock in Rio”. A foto expunha a garota a uma situação vexatória e o comentário feito por ele “Rock’n Rio por outro ângulo(..)” expressa a atitude claramente machista do secretário, o conhecido professor Fabião. Por ser uma pessoa pública, a repercussão da foto foi alta e muitas pessoas se manifestaram contrárias a atitude do “ilustríssimo” secretário. Os jornais A Tribuna, Diário do Litoral e G1 noticiaram que depois da má repercussão, Fabião se justificou dizendo que teria direito a liberdade de expressão e não tinha a intenção de desvalorizar a moça. A prefeitura de Santos se manifestou dizendo que a atitude do secretário foi inadequada. Logo em seguida, Fabião retira a polêmica foto do ar, pede desculpas públicas e tira férias para se afastar do cargo. Assim, ele poderá “superar este momento”, como citou a reportagem do G1.
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Foi reiterado nesses veículos de comunicação que o professor não tinha a intenção de desvalorizar a mulher. No entanto, podemos afirmar que o constante destaque feito, também expressa a visão machista que ainda impera em nossa sociedade. O machismo serve ao Capital não só como manutenção de suas relações sociais de produção, já que é a mulher que ainda mantém o trabalho necessário para a reprodução da força de trabalho, tanto sua quanto a do homem, mas também opera como controle de classe, atuando com violência sobre seus corpos. Assim, o corpo da mulher continua sendo assediado e considerado como algo público que pode ser fotografado ou abusado sem haver maiores consequências, já que o secretário simplesmente gozará de férias remuneradas para que todos esqueçam da infeliz atitude. Muitas críticas feitas, incluindo a do prefeito Paulo Alexandre, consideraram a atitude moralmente recriminável, o que não explicita o seu conteúdo machista e desvia o foco do verdadeiro problema: o machismo instituído na sociedade capitalista.
Diariamente, as mulheres, principalmente as trabalhadoras, sofrem com o machismo materializado na objetificação de seus corpos, nas brincadeiras vexatórias que ferem a dignidade feminina, nos assédios e na violência sexual cometida no âmbito público e privado. O caso Fabião também pode ser considerado um exemplo da frágil política interna de partidos social-democratas, já que utilizam pautas feministas apenas como palanque eleitoral a fim de cativarem o voto feminino.
Devemos nos lembrar dos 288 casos de abusos sexuais, nos ônibus, trens e metrô registrados pela polícia militar no período de janeiro a julho deste ano, somente na região metropolitana de São Paulo, de acordo com reportagem publicada no dia 29 de agosto 2017 no G1, ou mesmo os casos de exploração sexual de meninas/crianças no centro de Santos denunciados pelo Jornal Diário do Litoral no dia 30 de Abril de 2017. Também não podemos esquecer-nos do recente caso da trabalhadora que sofreu abuso sexual em um ônibus na região metropolitana de São Paulo, no qual o abusador ejaculou em seu rosto. Este sujeito já tinha passagem pela polícia por 13 estupros cometidos, mas continuava solto até aquele momento. Isso demonstra uma atitude negligente da justiça paulista quando o assunto é violência sexual contra mulheres.
O Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro reforça seu apoio às mulheres trabalhadoras que todos os dias são vítimas desses abusos e considera inaceitável uma figura pública desrespeitar a dignidade feminina em detrimento da sua suposta liberdade de expressão. Reafirmamos a necessidade da luta das mulheres trabalhadoras contra a exploração e a dominação imposta pela sociedade capitalista.
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